Não judie do vernáculo!


Aha!!! Te peguei! Vocabulário rebuscado é puro poder!!! Usar palavra difícil é indicativo de superioridade. Puro poder de passar vexame, superioridade de petulância. Exceto se faz parte de um texto técnico que se restringirá a leitores graduados naquela área, o uso de palavras “não comuns” prejudica a recepção da mensagem. Por isso, a ordem é facilitar! Afinal, se quero passar uma ideia, preciso garantir que não haverá dúvidas sobre ela.

Intaum... to ligadassa qui mes se eu iscrevê a sim cês vam intendê. Num é a sim ca gente fala? Tamém tem u negósso qui na internet naum prisisa dijita certin, caus de quê é ua comunicassaum mais rápida. I de carqué geito qui eu iscrevê cê vai intendê. Isso quin porta, num é?!

NÃO! NÃO É!

Importa que saibamos fazer o uso correto da Língua Portuguesa. E isto nem de longe significa escrever ou falar difícil, mas sim, não errar. Só isso. Comunicação informal ou regionalismo, de fato não é incorreto. Mas o texto acima não tem nada de informal, coloquial. É uma sucessão de erros, nada além disso. E olha que fui bacana “pá daná” usando pontuação, porque o que a gente tem lido por aí é de fazer chorar.

As pessoas usam uma sucessão de palavras que sem qualquer pontuação ficam desconexas mesmo que estejam todos os termos escritos corretamente mas esse negócio de não usar pontos virgulas exclamação e tudo mais nos deixa zonzos sem saber onde começa uma ideia onde termina outra e mais nos deixa tão inseguros que duvidamos até de nossa capacidade de interpretação e ficamos lendo e relendo tentando pontuar mentalmente para entender o que a pessoa quis escrever então porque dificultar as coisas

Calma! Pontuando:

As pessoas usam uma sucessão de palavras que, sem qualquer pontuação, ficam desconexas, mesmo que estejam todos os termos escritos corretamente. Mas esse negócio de não usar pontos, vírgulas, exclamação e tudo mais nos deixa zonzos, sem saber onde começa uma ideia, onde termina outra. E mais: nos deixa tão inseguros, que duvidamos até de nossa capacidade de interpretação e ficamos lendo e relendo, tentando pontuar mentalmente para entender o que a pessoa quis escrever. Então porque dificultar as coisas?

Erros, todos nós cometemos. Domínio de nossa língua, numa sociedade que não tem por hábito uma rotina de leitura diversificada, de fato é algo quase inatingível. Mas não é possível perdoar uma forma de escrita que dificulta a comunicação, ao invés de facilita-la. De fato, a comunicação via internet pede agilidade e isso diz respeito ao “encurtamento” das palavras, para digitarmos menos letras. Se assim considerarmos, o segundo parágrafo deste texto seria escrito de outra forma.

“Então... to ligadaça q msm q eu escreva assim, vcs vão entender. Ñ é assim q a gnt fala? Tbm tm o negócio q na net ñ precisa digitar certinho, pq é uma comunicação + rápida e qq jeito q eu escrever, vc vai entender. Isso q importa, ñ é?”

Mantive de propósito alguns erros de português. Mas percebeu que eu ganhei a economia de quase uma linha de digitação, sem precisar errar na grafia das palavras? Por isso, repito, coloquialismo, informalidade, nada tem a ver com aceitação de erro na forma de escrever as palavras e usar a pontuação.

E você deve estar confuso, esperando um artigo jurídico. Pois é... É que a gente se vicia em “inventar” português e comete muitas gafes e muitos pecados por causa disso. E na advocacia, comunicação truncada, pode colocar em risco o direito do cliente. Sim, eu sei que a maioria de nós não escreve um documento profissional da mesma forma que escreve no “zap zap”. Mas, a forma enganosa como temos usado a linguagem informal dificulta o aprendizado correto e formal da língua. E não são poucas as notícias de documentos profissionais, no nosso caso, jurídicos, com absoluta impossibilidade de leitura, que dirá de interpretação.

Se você é advogado, pense no risco que você corre e no vexame que vai passar se um juiz e seus assessores tiverem dificuldade de compreender sua petição. Imagine a cara do colega, advogado da outra parte, tentando entender o que você escreveu. E se você é um cliente, imagine o perigo do juiz e seus assessores não conseguirem entender aquilo que seu advogado escreveu.

Não vou entrar no mérito da qualidade do ensino fundamental e da omissão das faculdades de Direito sobre o tema. Você agora é adulto, formado e tem como suprir essas falhas. Nada justifica se manter neste nível de ignorância!

Por essas e outras, eu chego ao topete de informar que a má redação de um documento jurídico constitui uma grande falta de respeito com nossos clientes, nossos colegas e com os servidores do Judiciário. O advogado (e cá entre nós, qualquer pessoa) tem que ser seriamente advertido a respeito.

O art. 192 do Novo Código de Processo Civil obriga o uso da Língua Portuguesa em todos os atos e termos do processo, como já era previsto no Código anterior, que vigora até o final de 2015. Tenho o costume de dizer que qualquer pessoa alfabetizada consegue ler a lei. Mas será capaz de interpretá-la? Óbvio que não, na grande maioria dos casos. Caso contrário, o único requisito para exercício da advocacia seria a alfabetização.

Então, usando tudo que aprendi na faculdade e na vida, minha interpretação do artigo que citei acima é que, por lei, não somos simplesmente proibidos de redigir os documentos do processo em língua estrangeira, sem tradução; na verdade, somos obrigados a redigir em boa e correta língua portuguesa e de modo tão claro que não reste dúvidas a respeito de nossa tese em defesa do cliente.  Você arrisca outra interpretação?

Em tempo: vernáculo significa língua pátria; no nosso caso, o português.

Não judie da Língua Portuguesa!

Muita luz para todos nós!

**********************************************************
Você sabia que, ao encontrar algo e devolvê-lo ao dono, você tem direito a ser recompensado?

Nenhum comentário: