Imagine
a situação em que um paciente terminal tenha uma parada cardíaca, é
ressuscitado e a partir daí seja mantido vivo por aparelhos. Ou ainda alguém em
estado vegetativo que precise ter um pé amputado por causa de uma necrose que
coloca em risco sua vida, por uma infecção generalizada. Em nenhum dos casos o
paciente terá condições de recuperar a saúde e sua morte é apenas uma questão
de tempo. E de sofrimento. Os procedimentos realizados apenas irão prolongar
por um pouco mais de tempo a vida deles, mas não irá impedir que morram, porque
já se encontram desenganados pela Medicina.
Algumas
pessoas preferem ser mantidas vivas, ainda que artificialmente. Outras, não.
Muita gente gostaria de ter uma morte digna, confortável, sem prolongamento
inútil.
O
assunto é polêmico não apenas em nossas famílias, mas especialmente no Direito.
Não há uma lei sobre o assunto e isso dificulta tudo.
A
Constituição Federal protege a vida acima de tudo. E a dignidade da vida
humana, acima do resto. Assim, enquanto houver possibilidade de vida, os
médicos são obrigados a tentar restabelecê-la. Mas, e quando não houver mais
dignidade na sobrevida do paciente? Neste caso, o Conselho Federal de Medicina
autoriza o médico a fazer a vontade do paciente. Se ele disser que não quer
realizar determinado procedimento ou receber determinado tratamento, sua
vontade deve ser satisfeita. Neste caso, a Resolução do Conselho afasta a
possibilidade do médico ser condenado por homicídio.
Mas, como
um paciente vegetativo vai expor sua vontade e dizer que não quer receber o
tratamento?
Em
qualquer caso em que a pessoa não possa mais se manifestar, sendo irreversível
tal condição, caso tenha deixado um documento dizendo que não deseja ser
mantido vivo artificialmente ou que não deseja receber tratamento que irá
apenas prolongar sua vida, seu desejo deve ser cumprido, ainda que a família
não concorde.
É o
chamado Testamento Vital ou Diretivas Antecipadas de Vontade.
A quem
deseja deixar escrito sua recusa de tratamento, basta ser maior de 18 anos,
estar saudável e em pleno gozo de suas faculdades mentais, plenamente
consciente do ato, e redigir o documento. Mas diante da gravidade da escolha
que se faz, aconselha-se consultar um ou dois médicos, bem como um advogado e
discutir o assunto. Depois disso, convicto do que quer, escrever o texto. Outro
conselho é registrar o documento num Cartório de Notas (por Escritura Pública),
garantindo sua validade. Além de informar a recusa, pode-se ainda escolher uma
pessoa e nomea-la como seu representante, para que tome todas as providências
para fazer valer sua vontade, inclusive contra seus familiares. Não esqueça de
dar notícia do documento a todas as pessoas que devam ter conhecimento dele,
caso você perder a capacidade de se manifestar.
Mas
atenção! Cuidados paliativos que visam dar qualidade de vida ao paciente,
dando-lhe conforto em seus últimos dias, não podem ser recusados. Estamos nos
referindo aqui exclusivamente a procedimentos que irão prolongar inutilmente a
vida do paciente, ou seja, ele vai morrer de qualquer maneira.
Também
não se trata de eutanásia, que é a indução à morte. No caso em questão, não há
induzimento à morte. Ao contrário, trata-se de deixar que ela venha
naturalmente, sem qualquer intervenção neste processo, nem para antecipá-la,
nem para evitá-la. É a chamada ortotanásia.
Como já
disse, o assunto é polêmico e há possibilidade dos familiares ou do Ministério
Público contestarem judicialmente sua vontade. Não há garantias de que seu
desejo seja cumprido pelo juiz. Mas já há decisões favoráveis em alguns estados,
especialmente em segunda instância (grau de recurso), e isso é bastante
consolador.
Nossa!
Assunto pesado esse, né?! Mas está aí. Agora você já sabe de um direito que um
dia, quem sabe, pode ajudar a você ou alguém que você ama.
E fica
desde já registrado que por mais que eu adore a vida, por mais que eu ame estar
viva, em hipótese alguma desejo ter minha vida prolongada quando a situação de
morte não puder ser revertida. E que seja doado tudo que se puder aproveitar,
desde o dedinho do pé até o último fio de cabelo. Pronto, falei!
Muita luz para todos nós!
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