Na ação
social do Projeto Alô Doutora nesta semana, me deparei com uma situação
bastante inusitada. Dos atendimentos que realizei, três chamaram minha atenção:
uma senhora, irmã de uma advogada; outra senhora, funcionária de um escritório
de advocacia; e um senhor, cliente de um excelente advogado. Todos buscando
informação jurídica para seus casos.
A gente
imagina que quem pode pagar um excelente advogado, quem trabalha na área ou
possui o profissional na família, jamais teria necessidade de buscar
informações com terceiros. Mas isso não é verdade e os motivos são os diversos
possíveis. A que trabalha no escritório, tem vergonha de incomodar os patrões
com suas dúvidas. O cliente do advogado particular, não entende as
consequências da proposta que ele fez para solução do caso. E a irmã de uma
colega se sente abandonada pela mesma.
De
fato, são incontáveis os motivos que podem levar as pessoas a não conseguir
estabelecer uma relação de confiança com o profissional que contrata. Algumas
vezes culpa do advogado, que não é transparente e não se comunica com clareza;
outras vezes culpa do cliente que não consegue exteriorizar o que pretende e o
que sente. Acontece muito do advogado ter dificuldades em explicar determinadas
situações para o cliente. E também é recorrente o cliente não conseguir
entender o que o nós falamos.
Fiquei
refletindo sobre isso e lembrei de algumas situações tragicômicas, pelas quais
passei no exercício da advocacia.
Uma
delas contei essa semana no Facebook. Advogando para minha mãe, orientei a
mesma sobre o que não deveria dizer na audiência. Não se trata de fazê-la
mentir, mas de focar no que importa, já que ela é o tipo de pessoa que fala
muito mais do que lhe é perguntado. Durante a audiência, quando o juiz fez a
primeira pergunta, ela soltou a matraca e falava o que podia e o que não podia.
Dei uma cutucada com o pé por baixo da mesa e ela se afastou. E continuou
falando. Cutuquei de novo e novamente ela se afastou. Quando dei uma cutucada
mais forte, ela parou de falar e em alto e bom som disse, olhando pra mim:
“Aiê! Que que cê quer???” Dá pra imaginar o aperto em que fiquei.
Tive outro
caso, em que só ajuizei a ação porque a cliente jurava ter uma testemunha, só
esta, que não poderia apresentar naquele momento, porque o moço estava em outra
cidade a trabalho, mas que estaria disposto a vir para a audiência. Liguei pro
rapaz, ele confirmou que havia visto tudo e que viria. Fiquei tranquila e
distribuí a petição. Marcada a audiência, mais de um ano depois do ajuizamento
da ação, e mais de 3 anos após o fato, o moço veio se reunir comigo. Quando
solicitei que contasse o que ele viu, ele disse que não se lembrava mais, por
ter passado tanto tempo. Quase tive um troço! Respirei fundo e refresquei sua
memória, até que ele se lembrou e me contou detalhes de como minha cliente
tinha caído ao descer do ônibus. Acontece que o acidente ocorreu enquanto ela
SUBIA. Depois de algumas tentativas, sem sentir qualquer segurança na
testemunha, avisei a cliente que perderíamos a ação. O que nos salvou foi uma
proposta de acordo promovida pela parte contrária e à qual aderimos sem
pestanejar.
Existem
ainda aqueles clientes que te convencem da injustiça que sofrem e no decorrer
do processo você é surpreendida com a descoberta das mentiras da pessoa. E aqueles
que pagam o profissional e, insatisfeitos, pedem para você dar continuidade, já
comunicando que não tem um tostão para te pagar, pois gastou o que nem podia
com o outro advogado.
Do lado
de cá, já me deparei com alguns casos de colegas que roubaram seus clientes,
repassando um valor bem a menor que o devido. E isso é constrangedor para toda
a classe. E o mais comum: advogados reclamando que os clientes incomodam demais
e os clientes reclamando que não conseguem falar com seus advogados.
Enfim,
todos nós, de um lado ou de outro, pecamos nesta relação. E apesar de me
indignar nestas situações, depois acabo fazendo piada, afinal, somos seres
humanos e relações humanas são assim mesmo.
Mas,
uma coisa não perdoo: cliente, depois de me contratar, procurar outro
profissional e chegar no escritório dizendo que o outro disse que estou agindo
errado. Ou mesmo, sem procurar ninguém, dizer que estou com descaso com o
processo. Nas poucas vezes que passei por isso, devolvi todos os documentos do
cliente e renunciei ao caso, mesmo diante dos protestos deles. Quem, nestas situações,
saiu do meu escritório sem levar sua papelada e minhas razões formais de
renúncia, receberam tudo via carta registrada. Pra mim, a confiança foi
quebrada e não me interessa manter relação profissional com aquela pessoa. As
pessoas tem direito de não concordar com o caminho que escolhi para fazer valer
aquela tese, mas deve conversar comigo e não acusar, ameaçar ou agir de maneira
tão arrogante. Especialmente, porque em todos os casos em que isso aconteceu, eram
pessoas que reclamaram sérias dificuldades financeiras e que, em razão disso,
cobrei honorários bem abaixo do que deveria.
Bom,
diante de tudo que contei, só posso aconselhar que, sim, busque sempre
informações sobre seu caso, antes e depois de escolhido o profissional. Porém,
tenha cautela depois da contratação. Não destrua a relação com o profissional
que te socorreu quando você precisou. Escolha bem seu advogado, pesquise tudo e
todos sobre seu processo e contrate o profissional em que você confia. Se no
decorrer do processo, essa confiança se quebrar, não hesite em contratar outro
advogado, informando para o anterior que você não está satisfeito com a conduta
dele. Não há problema nisso. Problema é acusar sem ter fundamento.
Ah, não
tem como arcar com honorários de um advogado em quem realmente confia? Só
lamento! Dinheiro pra cerveja, pro aniversário do seu filho, pra viagem, sempre
aparece, né?! Uma questão de prioridades. Se você mesmo não valoriza o seu caso
a ponto de, com ou sem sacrifício, pagar um profissional que lhe transmita
confiança, não exija isso do outro.
E,
“pelamordedeus”, pare de ligar para o advogado que você contratou. Insistência
não fará seu processo andar mais rápido ou o profissional agir melhor. Ao
contrário do que você pretende, isso não faz ninguém ter mais zelo com sua
causa que com as demais, apenas cria antipatia e descaso com suas tentativas de
contato, dificultando inclusive que você consiga encontrar o advogado quando
realmente tiver algo importante a dizer.
Pra
encerrar, lembrei de um caso que me constrangeu bastante. Certa vez, precisei
fazer a defesa de uma senhora que, sem costume de usar lingeries, era acusada
de mostrar as partes íntimas no local de trabalho. Orientei, conversei,
expliquei e lá fomos nós para a audiência na Corregedoria. Quando perguntada se
realmente tinha tal hábito, ela negou, indignada e pra provar que usava, sim,
lingerie, abaixou o decote e a manga mostrando os peitos dentro do sutiã
novinho, para o Presidente da Comissão Processante. Quase explodi tentando
segurar o riso.
Vou te
contar, advogado sofre, viu?!
E se
você, cliente, sofre também, entre em contato conosco no www.alodoutora.com.br,
estamos à disposição para te orientar. Conte conosco!
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