O juiz é o "migué"

Recebi nas redes sociais a cópia da sentença abaixo e fiquei pasmada ao  ver as pessoas elogiando o juiz que emitiu tal decisão. É o seguinte:

Vistos, etc.

Li a inicial e não me ative à data da compra. Li a contestação e então percebi que o aparelho fora comprado em novembro de 2012. Verifiquei na última página da inicial e vi que a ação fora ajuizada em 18 de agosto de 2015.

Confesso que fiquei curioso com a resposta a ser dada pelo autor na impugnação a contestação quanto a aplicação do art. 26, II, do CDC.

Ao ler a peça, no item 15 (fl. 101) o autor tentou dar o primeiro "migué" neste Juiz, ao alegar que inúmeras vezes tentou amigavelmente resolver o problema. Mas, onde está a prova? Ou onde isso foi alegado na inicial? No item seguinte, 16, consta que o autor simplesmente não tem mais interesse na manutenção do produto (isso 02 anos e meio após o uso) e quer a "rescisão do contrato".

Confesso que fiquei triste com este processo, com o autor, com os advogados, com o Judiciário, com o Sistema e comigo mesmo. Numa sexta-feira à tarde, 16 horas, Janeiro, sol forte lá fora, pergunto se mereço realmente estar "julgando" este processo. Acho que não.

Reconheço a decadência e extingo a ação.”

Para leigos, pode até parecer que tentaram aplicar um golpe (migué é golpe) no Judiciário, pleiteando um direito que não possuem. Mas então porque o juiz não aplicou multa por litigância de má-fé (migué que a parte e advogados tentam dar na outra parte)? Porque quem tá dando o golpe é o emissor da decisão.

Leigos eu até perdoo, mas colegas, não. Ninguém sacou o “migué” que esse juiz deu na gente?

Quando ele diz “Li a inicial e não me ative à data da compra.” e “Confesso que fiquei curioso com a resposta a ser dada pelo autor na impugnação...”, eles nos informa que não leu nadica do processo e movimentou o Judiciário à toa, quando deveria ter extinguido o processo, declarando a decadência do direito da parte, de ofício, sem nem citar a outra parte.

Ele não leu nada e quando se deu conta, precisou marketizar seu sofrimento no exercício de seu nobre labor, para mascarar o erro. Então ele vem, todo indignadozinho, e confessa não merecer estar julgando o caso numa linda tarde de verão.

Caraca!!! O cara é pago para estar atrás da mesa analisando e decidindo a vida da gente, mas confessa que apesar de ser bem remunerado por isso, preferiria curtir o sol forte de uma sexta-feira de janeiro! Perceba a falta de seriedade com que ele trata seus afazeres. E ainda dá o migué na gente, se vitimizando, quando na verdade pecou por omissão.

Não me manifestaria, a não ser em pequenas rodas, se ele não tivesse cometido o abuso de desmerecer o autor, os advogados e o Judiciário. Como se nós, advogados e partes fôssemos os culpados de todos os seus problemas e como se o Judiciário fosse um sistema mágico que anda sozinho. Ora, quem faz e quem manda no sistema judiciário brasileiro são desembargadores e juízes. Se eles quiserem, a coisa anda. Quem não sabe disso? Tanto no que se refere a ações administrativas quanto técnicas, o planejamento e a execução são comandadas por eles. E é tudo travado, tudo porco, tudo mal ajambrado.

Se esse juiz acreditasse de verdade, que a parte e seu advogado cometeram o abuso de pleitear um direito prescrito, a ponto de leva-lo a questionar o que aquilo estava fazendo sobre sua mesa, teria aplicado multa pela má-fé do Requerente. Não o fez. Então não viu má-fé. E saiu dando “migué”, tentando florear a decisão. Conseguiu. Tem bobo à beça, batendo palmas pra ele.

O que acho que ninguém procurou saber é que a parte que o juiz acusa de ter tentado dar o “migué”, o golpe, recorreu. Para quem atua no Direito, o recurso demonstra convicção. Me parece que o Autor está certo de quem ter o direito e quer exercê-lo. Tentei ter acesso ao processo via internet e não consegui. Caso algum colega de Florianópolis possa fazer o favor de obter e enviar cópia da Inicial, eu agradeceria.

Pois é... Pois é!

Ficam aí as reflexões:

1) Merece confiança um juiz que profere uma decisão desmerecendo o advogado e seu cliente, acusando-os de golpe, sem aplicar as penalidades previstas na lei? Seria mais digno assumir o erro ao invés de se vitimizar.

2) E você, como você lida com seus erros e como ensina seus filhos a lidar com os erros deles? Você tem consciência de que está formando seres humanos e não “deuses” acima do bem e do mal? Acho que não! O que a gente mais ouve por aí são justificativas. Raramente ouvimos pedidos de desculpas. “Se eu tenho justificativa, não estou errada. No máximo, no máximo, fui induzida ao erro.” E nessa brincadeira vamos criando “deuses” para depois sermos nós mesmos vítimas deles.


Muita Luz para todos nós!

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