Não somos todos iguais, a não ser perante a lei.

Coisa tosca no Facebook é frase pronta. E mais chato ainda é replicar aquilo como se fosse verdade. Uma muito compartilhada é aquela figura de um caixão com os dizeres “Aqui termina todo o orgulho, toda a arrogância, toda a superioridade, todo preconceito.” Primeira coisa que vem à minha cabeça: “Opa! Bora ser bastante arrogante enquanto se está vivo, porque depois que se morre, isso acaba! Bora exercer toda a superioridade em vida, porque depois que eu morrer não vou poder empinar meu nariz!”

E o tanto de gente que cuida da vida do fofoqueiro, demonstrando indignação por ele também cuidar da vida dos outros? É uma piada! E o povo se sente gente repetindo frases prontas e tantas outras bobagens. E a questão da igualdade é uma delas. “Ninguém é melhor que ninguém!”, dizem. Oh, dó!

No texto de semana passada, lembrei que quando defendemos a bandeira da igualdade, ninguém fica de fora. Ninguém mesmo!

Me incomoda muito esse discurso de “somos todos iguais”, “ninguém é melhor que ninguém”, “todos temos os mesmos direitos e deveres”. Será mesmo? Ninguém me convence disso. E quando retruco, ninguém me responde, ninguém argumenta. Limitam-se a sorrir, sem graça. Alguns até gaguejam, mas não passam disso.

- Se somos todos iguais, você se considera igual à Suzane Richthofen?

- Se ninguém é melhor que ninguém, porque você desfaz, à boca pequena, do filho da vizinha que quer namorar sua filha?

- Se todos temos os mesmos direitos e deveres, porque mulher aposenta com 30 anos de contribuição e homem com 35?

Ninguém me responde. Mas eu sei as respostas.

Nós não somos iguais. Nunca fomos. Nunca iremos ser. Há pessoas melhores e pessoas piores, em um ou mais aspectos. Há pessoas com mais direitos que outros e menos ou mais deveres.

Essa ideologia da igualdade, se trata na verdade de Igualdade Jurídica e igualdade jurídica não nos iguala a não ser onde a lei diz que devemos ser tratados da mesma maneira. O comando é jurídico, não é moral, nem religioso, nem filosófico. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...” (art. 5º, Constituição Federal). Todos somos iguais, sem qualquer distinção, perante a lei, somente perante a lei, o que significa dizer que somos iguais apenas onde a lei assim dispuser. E onde ela não falar nada, não somos iguais, somos indivíduos com particularidades e características bastante diferentes.

Ninguém será considerado culpado sem que responda um processo onde lhe seja garantida ampla defesa. Tá na Constituição. O bandido pego em flagrante e você, cidadão de bem, até o final do processo são igualmente sujeitos do direito de defesa, do direito do contraditório. E você é igual a um assassino? Não! Mas, sim! Juridicamente, onde a lei diz que sim, sim! Mas em muitos outros aspectos eles são pessoas piores que você.

Também está na Constituição que ninguém pode ter direitos ou deveres diferentes por ser negro ou branco, mulher ou homem, letrado ou analfabeto, rico ou pobre, deficiente ou não. Mas pode! Não pode. Mas pode. Perante a lei e perante a própria Constituição. Por isso, negros tem prioridades e exercem direitos diferentes sobre brancos (cotas), pobres sobre ricos (cotas), deficientes sobre não deficientes (cotas), letrados sobre os analfabetos (ser votado), mulheres sobre homens (aposentadoria). Uai... Mas não somos iguais? Não! Sim! Somos iguais quando a lei diz que somos. E somos diferentes onde ela assim determina. O assunto é jurídico e não passa disso. Mas a galera repete igual papagaio como se fosse uma verdade moral universal.

Sabendo que somos diferentes, a Constituição prevê que em alguns casos a lei deve informar onde somos iguais e quando é que seremos considerados diferentes. Mas seguimos bradando que todos somos iguais e dignos dos mesmos direitos e deveres, menos os negros, menos os moradores de rua, menos os menores infratores, menos os filhos da vizinha, menos, menos, menos.

Porém, não é por seremos nitidamente tão diferentes, que não devemos defender a bandeira da igualdade. Só temos que lembrar que a Igualdade (e algumas diferenças) é jurídica, e como tal, exige argumentos jurídicos. Se você não tem formação na área... Melhor mudar de assunto rs. Ou se informar bastante antes de querer se impor como igual ao “resto do mundo”.


Muita luz para todos nós!

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