- Bom dia! Meu nome é Adriana, me
ligaram deste número.
- Ah, doutora! Como vai? Sou Beltrana,
advogada também, e tenho uma sala aqui ao lado de onde era seu escritório e tem
uma cliente sua aqui, tentando falar com a Senhora. Você fala com ela agora?
- Claro! Falo sim! Muitíssimo
obrigada!
- Dotôra Driana?
- Sim, quem tá falando?
- É fulana, dotôra!
- Uai, que que houve?
- Acho que nós precisamo conversá olho
no olho, né, dotôra!
- Como assim? Nós temos mantido
contato nas últimas semanas...
- A Senhora lembra que eu falei que
não sei ler? Aí a senhora liga que nós perdeu a ação. Es tinha me posentado,
agora tira o benefíço e eu tenho que voltá pa perícia. Nós tem que conversá
pessoalmente. Eu não vou fazê perícia nenhuma!
- Dona Fulana, eu te avisei que a
decisão do juiz não seria mantida na segunda instância. Sua invalidez é
temporária. O perito disse que a senhora só não melhora, porque se recusa a
fazer o tratamento. O juiz te aposentou argumentando que pela sua idade a
senhora não aguentaria ser reabilitada, para fazer outras tarefas no mercado de
trabalho. Mas isso não é o entendimento na segunda instância. Eu te falei isso!
Agora, o período que eles negaram o auxílio-doença, o juiz mandou pagar. Mas,
como eu já expliquei, ainda demora um pouco, porque tem uns procedimentos pra
fazer. E se a senhora não passar pela perícia, perde de vez o benefício.
- Dotôra, nós precisa conversá é
pessoalmente. Eu ligo pro seu telefone eu não consigo falá ca senhora...
- Dona Fulana, a senhora falou comigo
semana passada! Mas tudo bem. Se a senhora quer pessoalmente, será. Mas eu te
disse que parei de advogar há mais de 2 anos. Fechei o escritório. Acompanho
apenas algumas poucas ações. Anote o endereço de onde estou, que vou te atender
na minha hora de almoço. Rua blá blá blá blá blá.
- E a senhora tem telefone Vivo?
- É o mesmo que a senhora já tem e
para o qual me ligou semana passada.
- Aqui no cartão só tem da Claro e da Oi,
que é esse que eu to ligano agora.
- Dona Fulana, eu te passei o número
da Vivo e a gente tem mantido contato por ele. Mas tá bom, anota aí: blá blá
blá. Então eu espero a senhora entre as 13 e as 14 horas.
- Tá bom, dotôra!
- A senhora agradeça a minha colega aí
de onde a senhora está.
- Ta bom.
As horas se passaram e a dita cuja não
apareceu. No final da tarde ela ligou.
- Dotôra Driana?
- Oi, dona Fulana. A senhora não veio.
- Dotôra Driana, eu queria pedí
desculpa pra senhora...
- Oi?
- A senhora me desculpa, eu falei
demais, é que eu tava com muita dor. Eu num vô aí, não.
- Tudo bem, dona Fulana, a senhora vem
outro dia, mas aí me liga antes pra avisar.
- Não, dotôra, me desculpa, eu falei
demais, eu confio na senhora. A senhora me desculpa?
- Dona Fulana, é direito da senhora
querer encontrar sua advogada e esclarecer o que a senhora desejar...
- Não, dotôra, pelamordedeus, me
desculpa!
- Tá bom! Tudo bem! Não há o que
desculpar. E pode ficar tranquila, porque não estou com raiva. Não se preocupe.
- Olha, eu boto o nome da senhora todo
dia nas minha oração.
- Que bom! Continue colocando!
- Então a senhora fique com Deus,
viu?! Deus te abençoe sempre! Se a senhora tiver alguma novidade do dinheiro
que vai sair a senhora me liga.
- Tá bom, dona Fulana. Com Deus!
- Amém, dotôra. Com Deus tamém!
Juro que não estou com raiva dela, a
não ser pelo fato de ter me exposto a uma colega que não me conhece. Ao que
tudo indica, a advogada a orientou e mostrou a ela as decisões no processo, que
é virtual e ela poderia ter acesso. Mas se fosse uma colega sem ética, teria
instigado a cliente contra mim para ganhá-la. Claro! Processo em fase de
execução, já nos finalmentes, qualquer mixaria que a outra ganhasse seria
lucro.
Não vejo nada demais o cliente
procurar outras pessoas e profissionais para se orientar quando tem dúvidas
acerca da conduta de seu advogado. Agora, é sacanagem você procurar um estranho
para falar sobre desconfiança que você tem no profissional que você contratou.
Um estranho?! Inadmissível! Procure sim alguém de sua confiança para desfazer
ou confirmar a desconfiança. Mas alguém que seja de sua confiança, de quem você
tenha as melhores referências. Nada justifica você expor um profissional a outro
sobre quem você não tem parâmetro nenhum para poder saber quem é pior.
Certa vez, uma cliente idosa reclamou
de minha conduta profissional e depois de dizer a ela que eu não via erro de
minha parte, ela manteve-se firme na exigência de que eu fizesse outro tipo de
defesa. Não aceitei! Ela revogou a procuração, pediu os documentos e procurou
outro advogado. Normal! Não vou me enervar por isso. Só que ela voltou uma
semana depois, chorando, pedindo desculpas, querendo que eu ficasse com a
causa, porque o advogado que ela procurou concordava com minha conduta e foi
honesto com ela ao dizer que ele mesmo não iria por outro caminho. Neste
momento eu tive sim, vontade de esguelar a danada. Mas era idosa, chorou, e meu
coração amoleceu. Peguei a causa de volta.
Quer acompanhar par e passo a atuação
do seu advogado, direito seu! Mas para isso você precisa:
1) Pagar os honorários iniciais
pedidos, sem chorar desconto.
2) Consultar na internet, ou pedir
alguém que o faça, o andamento do processo, ligando para seu advogado, em
horário comercial, sempre que tiver dúvidas.
3) Não sair do escritório ou finalizar
a ligação sem ter certeza que entendeu os esclarecimentos passados pelo
advogado. Tendo ou não entendido, não volte ao mesmo assunto.
4) Não demonstre desconfiança.
Oriente-se, informe-se com alguém de sua confiança. Só aí procure seu advogado
e diga a ele o que te contrariou e como você quer que seja daí pra frente.
5) Troque de advogado, caso não
cheguem a um acordo.
Minha responsabilidade é a mesma,
inclusive se eu trabalhar de graça. Mas minha disposição para atender ao
cliente e minha dedicação mudam quando ele acredita que pode me ensinar a
trabalhar. Pior ainda se for o tipo que negocia desconto em honorários.
Fica a dica! Mesmo que não seja esta a
sua opinião, finja que seu advogado é o mais competente que você conhece. E
demonstre isso! Ou então troque de profissional! Mas nunca seja antiético com
ele como você julga que ele possa estar sendo com você. Já processei uma ex-cliente
e foi constrangedor vê-la me pedindo desculpas na audiência. Não queira passar
por isso!
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